Publicidade

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Entrevista: A importância da educação financeira no ambiente de trabalho

Andre Divulgação 03
André Massaro é especialista em finanças e economia, com destacada atuação na área de finanças pessoais e investimentos. André acabou de lançar o excelente “Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho”, que pode ser baixado gratuitamente em www.andremassaro.com.br/GEFAT
1. Logo no início do ebook você comenta que o Brasil passa pelo “financeirização” e que isso tem um grande impacto na forma que o brasileiro lida com dinheiro. O que seria a “financeirização”?“Financeirização” é como chamamos o progressivo aumento da complexidade dos produtos e das transações financeiras, que acaba obrigando o cidadão comum a entender conceitos de finanças com os quais não deveria ter que se preocupar, sob o risco de acabar tomando decisões financeiras erradas ou mesmo de ser enganado.
Os EUA já passaram por esse processo. Quem conhece o mercado financeiro de lá sabe que a quantidade de opções, seja de crédito, de investimento ou de previdência, são inúmeras, e nenhuma delas parece ser totalmente adequada às necessidades de um indivíduo.
O Brasil começou a enfrentar esse processo de aumento de complexidade recentemente e é algo que ainda está em andamento.
Há poucos anos havia pouquíssimas opções de crédito, aposentadoria era responsabilidade do governo e investimento era sinônimo de caderneta de poupança ou imóveis. Hoje temos muitas opções de produtos de crédito, de investimento e de previdência, todas bastante complexas e que até gente que trabalha no mercado financeiro tem dificuldade em entender, e a tendência é que essa complexidade aumente ainda mais no futuro.
Em um cenário assim, o risco de tomar decisões erradas, que resultam em perda financeira, é altíssimo – por isso a necessidade cada vez maior de educação e capacitação financeira por parte do cidadão comum.
2. Uma pesquisa apontou que nos EUA o dinheiro era a maior fonte de stress de 69% dos americanos. Por que será que temos esse quadro, considerando que o dinheiro deveria ser um recurso para permitir a realização de sonhos?
O dinheiro é mais que um meio de realização de sonhos – o dinheiro é algo que, se bem usado, nos dá liberdade.
É importante ressaltar o “bem usado” em minha frase anterior. O uso e o entendimento incorretos do dinheiro fazem com que ele deixe de ser nosso aliado para virar um causador de angústia e de problemas.
As pessoas querem consumir, desfrutar das coisas boas e ter um alto padrão de vida (e quem não quer?), mas ao fazer isso de uma forma “economicamente insustentável” o resultado é endividamento e desespero.
Os EUA são um país onde, historicamente, as pessoas consomem muito e o fazem com dinheiro que não têm, impulsionadas pelo crédito fácil ao consumo. Quando as pessoas gastam mais do que ganham, é natural que, em algum momento, elas acabem se metendo em apuros financeiros que geram, entre outras coisas, o stress.
Some-se isso ao fato de que a economia americana não está vivendo seus melhores momentos (especialmente na questão do emprego) e temos, enfim, um cenário perfeito de stress e angústia.
A má notícia é que nós, brasileiros, estamos indo pelo mesmo caminho.
Ainda não temos muitas pesquisas e trabalhos científicos mostrando a relação entre dinheiro e stress, mas como nosso padrão de consumo está cada vez mais próximo do americano, é razoável imaginar que os resultados desse tipo de pesquisa se aplicam, em grande parte, a nós também.
3. No livro, além de mostrar as vantagens em ter funcionários mais educados sobre suas finanças, você dá um passo-a-passo muito bom para quem quer implantar um programa de educação financeira na empresa. Para quem ainda não leu o livro, qual seria o primeiro passo para começar o programa?
No geral, eu diria que o primeiro passo é “reconhecer o problema”, mas conversando com vários profissionais de recursos humanos, sinto que a maioria deles já sabe que os problemas financeiros de funcionários afetam negativamente o desempenho dos empregadores. Por isso, esse passo é dispensável, pois hoje já há uma quase unanimidade de que o problema é real.
Então, o primeiro passo “pra valer” é tentar identificar quais são os funcionários que estão enfrentando problemas financeiros para determinar qual a melhor forma de ajudá-los. Às vezes uma boa conversa é o suficiente. Outras vezes aquele funcionário precisa receber algum tipo de treinamento para administrar o próprio dinheiro.
Em outros casos mais críticos, a desorganização financeira é apenas a parte visível de uma desorganização pessoal e, mesmo dando educação e orientação financeira, a pessoa não muda sua forma de lidar com o dinheiro, vivendo permanentemente “enrolada”. Um funcionário nessa situação está comunicando algo importante para a empresa, que talvez tenha questões pessoais mais profundas para resolver e, provavelmente, não tem condições de assumir grandes responsabilidades ou liderar pessoas. Nesse caso, a empresa precisa decidir o que fazer.
Às vezes um funcionário é muito valioso e justifica algum tipo de ajuda mais intensiva, como talvez um coaching ou um acompanhamento individual,  focado na mudança de hábitos nocivos. Em algumas circunstâncias, talvez aquela pessoa simplesmente “não sirva” e é melhor afastá-la da organização.
4. Todo tipo de programa de educação corporativa exige um investimento de tempo e dinheiro. Como o empreendedor pode avaliar o retorno de um programa desse tipo na sua empresa?
A mensuração do retorno financeiro de programas de educação corporativa é um dos tópicos mais controversos em administração. Existem milhares de modelos e poucos são reconhecidos como sólidos e confiáveis.
O modelo mais aceito e conhecido para educação financeira é o do PFEEF (Personal Finance Employee Education Foundation), criado pelo Dr. E. Thomas Garman, que estima que em média, o retorno financeiro é de três para um.
Porém, acredito que há outras formas, não quantitativas, de avaliar o retorno de um investimento desse tipo, como por exemplo observando melhorias no clima interno, redução de conflitos, de acidentes de trabalho por falta de atenção e uma potencialização dos demais benefícios oferecidos pela empresa.
5. Se você pudesse reduzir a uma coisa só, qual seria sua dica para o empreendedor que quer conscientizar outras pessoas sobre a importância da educação financeira?
O empreendedor não deveria ser responsável por educação financeira.
Em um mundo ideal, as pessoas seriam educadas financeiramente nas escolas e por suas famílias, mas no mundo real isso não acontece e quem acaba pagando a conta são as empresas, que têm enormes perdas de produtividade em decorrência da forma deficiente com que seus funcionários gerem os próprios recursos.
Minha dica para o empreendedor é: procure saber como seu funcionário está usando o dinheiro que recebe.
Não estou sugerindo que a empresa interfira na vida pessoal dos funcionários e nem que suas decisões financeiras sejam “da conta” do empregador, mas dinheiro é a maior contrapartida que a empresa dá pelo trabalho que recebe.
Se o funcionário não entende o valor do dinheiro que está recebendo, é possível que também não enxergue claramente o valor do trabalho que está dando em troca.
Vou abusar do espaço e dar uma segunda dica, que na verdade não é uma dica e sim um ponto para reflexão: Empreendedores têm muito a ganhar em um cenário de consumo aquecido e desenfreado.
A “deseducação financeira” é favorável ao empreendedor, pelo menos no curto prazo. Mas no longo prazo, esse consumo aquecido vira dívidas, inadimplência, quebradeira e recessão.
Por isso, invista em educação financeira, não só por seus funcionários, mas também pela sustentabilidade de seu próprio negócio.

Fonte: Saia do lugar

Nenhum comentário:

Postar um comentário